Nunca fui uma pessoa que só faz jantar especial aos sábados. Nunca fui do tipo que guarda o melhor vinho para uma comemoração. Nunca deixei de usar uma roupa, um perfume, uma louça, um acessório pra esperar por uma festa. Eu sempre tive a certeza de que a vida acontece hoje, que cada momento, por mais simples que seja, tem sua beleza e merece ser comemorado. Mas, depois das tragédias que vivemos nos últimos dias, tenho levado essa minha teoria ainda mais a sério.
Primeiro foi Brumadinho. Depois as chuvas no Rio de Janeiro. Em seguida o incêndio no Flamengo. E, segunda-feira, a partida do Boechat. Quem não repensa a própria vida depois de tantas mortes? Quem não se coloca no lugar das vítimas e pensa: “eu poderia estar lá”? Quem não sente uma urgência de ser feliz, de realizar sonhos, de viver mais?
Vida frágil
Engraçado que a rotina parece que coloca um filtro na única certeza que temos: a de que vamos morrer um dia (e que pode ser hoje, amanhã ou sábado). É como se a gente simplesmente se esquecesse dessa fragilidade. Como se pudéssemos mesmo planejar nossos próximos 10, 20, 30 anos. Não, caros, não podemos.
Repare que não estou dizendo que não temos que poupar para o futuro. Que não temos que planejar a faculdade dos filhos, a aposentadoria. O que estou dizendo é que temos que encontrar um equilíbrio entre viver presente e futuro.
Não dá para ser feliz só no feriado prolongado. Não dá pra usar roupa nova e bonita só no reveillon. Não dá para tomar champagne só quando chega uma boa notícia. Temos que dar um jeito de ser felizes mesmo depois de um dia chato no trabalho. Temos que caprichar no jantar da segunda-feira. Temos que quebrar a rotina com um vinho especial e amigos em volta da mesa no meio da semana. Isso mesmo. Sem motivo. Ou melhor: com mil motivos. E o maior deles é que estamos vivos. Hoje. Agora.