Todo mundo diz que o casamento não pode cair na rotina. Que essa palavrinha tão pequena tem um poder assombroso. Que acaba com a paixão. Que é o antídoto da felicidade. Que o segredo é sempre inventar, inovar, criar surpresas um para o outro. Concordo. Em partes. Acho tudo isso legal. Mas acho que o essencial é gostar da rotina sim. Gostar de trocar ideia, resolver problema juntos é mais importante do que gostar de viajar com o outro por exemplo. Porque na vida real é assim que a gente vive 99% do nosso tempo: na rotina do dia-a-dia!
Rotina gostosa!
Eu AMO a rotina que vivo com meu marido. Desde que começamos a namorar ela tem início com um “bom dia” anda na cama, os dois descabelados e cheios de sono. A vontade é de ficar ali o dia todo. Mas entre o despertar e o levantar temos segundos contados no relógio!! Tirar as duas da cama leva tempo! E ainda tem o uniforme, a escolha do penteado, do tênis, do casaco.
Na pia do banheiro, enquanto escovamos os dentes delas ou os nossos, lembramos um ao outro de algum compromisso do dia. Pedimos um favor. Uma ajuda pra resolver algo. Damos risada um do outro. Contamos o sonho que tivemos. No café da manhã, enquanto ele prepara o café e eu a lancheira das crianças, é hora de mais lembretes e alguns planos para o jantar. Um beijo e um “eu te amo” depois, cada um segue para o seu dia.
Rotina no telefone!
Durante a tarde nos falamos algumas vezes. Trocamos mensagens outras tantas. “Estou no supermercado, quer alguma coisa?”. “Ligaram da escola, Nina está com febre”. “Estou enrolada, pega as crianças?”. “Tenho ótimas notícias! Te conto a noite”.
No fim da tarde nos reencontramos. Eu concentrada em fazer o jantar das crianças sem queimar nada. Ele ajudando as duas com a lição. Os dois exaustos. Dá tempo de um beijo e nada mais. Qualquer papo é sempre interrompido por um “manhê”, “paiê”. É, melhor deixar pra depois que elas dormirem…
O jantar é um caos. As duas querem falar ao mesmo tempo. Cai o suco na mesa. O guardanapo no chão. Maitê reclama porque não quer comer o frango. Nina chora porque acha normal comer bala em plena segunda-feira, depois de um fim de semana de formiga. No meio disso tudo a gente se olha, se apóia, escondemos a risada durante as broncas, damos uma piscadinha um para o outro.
As duas alimentadas seguimos para dar banho, escovar os dentes, colocar pijama e botar as duas na cama. O ritual demora quase uma hora. Nesse meio tempo eu aviso “não me deixa esquecer de te contar tal coisa”. Ele pergunta: “você pagou aquela conta?”. Digo que sim, mas muitas vezes nem prestei atenção. Ele finge que acredita. Mesmo sabendo que vai ter que perguntar tudo de novo!
Enfim, sós…
Missão cumprida é hora de ficarmos só nós dois de novo. Ufa!! Tanta coisa pra dizer. Tanto para conversar. Hora de jantar tranquilamente. Tudo bem que, às vezes, não é tão tranquilo. Em algumas noites uma delas aparece na sala e tem que ser levada de volta pra cama no colo. Nesses dias a comida esfria. O vinho esquenta. Mas faz parte.
A conversa poderia durar muito mais. Mas o sono começa a bater. Amanhã eu tenho compromisso. Ele reunião importante. Hora de tomar banho, escovar os dentes e ir pra cama. Não sem antes dizer mais um “eu te amo”. Não sem antes ele puxar o edredon e eu reclamar. Não sem antes eu dizer que talvez tenha esquecido de desligar o forno e ele ir checar correndo.
Hora de apagar a luz e deixar o sono vir com tudo. Não sem antes mais um “Eu te amo”. Mais um dia comum acabou. Sem muito glamour. Nem eu nem ele preparamos surpresa para o outro ou tivemos forças para dormir mais tarde.
Amanhã quem sabe eu compre algo especial para o jantar. Talvez ele chegue com flores ou um vinho que eu gosto. Quem sabe a gente veja juntos um filme de amor. Ou de guerra, preferido dele. Pode ser que a gente decida onde vamos no fim de semana. Ou que a gente namore até de madrugada. Não importa. O que importa é que mesmo um dia comum com ele é muito especial. E que eu amo a nossa rotina!