Escuto essa pergunta direto desde que apareci pela primeira vez na TV (isso foi em 1997, 1998, não me lembro direito porque faz bastante tempo…). “O que eu preciso fazer para ser repórter?” costuma vir de adolescentes que ainda estão prestando vestibular ou começaram a faculdade de jornalismo há pouco tempo. Muitos ainda iludidos com o glamour da profissão (que, sinto dizer, não existe!). Outros querendo mesmo levar a vida maluca que a gente leva (sim, isso existe!). O fato é que não sou ninguém para responder essa questão (tem muito mais gente tarimbada do que eu, entende?). Mas o que eu posso é falar um pouco do que é a vida de repórter na prática, compartilhar minha experiência de 20 anos na área (conto minha carreira a partir do ano em que me formei, embora já trabalhasse na área durante a faculdade). Enfim, falar sobre a minha profissão é muito prazeroso, principalmente se percebo que aquela pessoa que está perguntando quer mesmo seguir essa carreira tão difícil, mas tão legal!!
Pois bem. Quem quer ser repórter precisa, antes de mais nada, gostar de ser jornalista, de escrever, de ler muito. Precisa gostar de contar casos, de ouvir os outros, de se comunicar com as pessoas. Precisa gostar de perguntar. Quem quer ser repórter tem que ser curioso por natureza. Tem que questionar respostas prontas, não aceitar explicações sem sentido. Tem que perguntar o que ninguém quer responder, muitas vezes. E isso não é fácil.
Quem quer ser repórter precisa estudar muito, sobre assuntos diferentes, ao longo da carreira. Eu comecei trabalhando no caderno Cotidiano da Folha de São Paulo, cobrindo a editoria de polícia, por exemplo. Precisei ir a delegacias, presídios. Entrevistei criminosos, delegados, juízes. Tive que entender um pouco desse mundo tão distante do meu, caso contrário não teria acesso as informações que precisava para escrever meus textos.
Quem quer ser repórter precisa correr atrás do inédito, do que ninguém sabe, do furo. Precisa trabalhar fora do horário comercial, precisa ter o telefone ligado e os ouvidos atentos 24h por dia. Precisa ter um gravador no bolso e uma câmera no porta-luvas do carro (ok, o celular agora resolve essas duas questões).
Quem quer ser repórter precisa estar disposto a trabalhar bastante. Paulo Henrique Amorim, com quem tive a honra de trabalhar, sempre me disse que repórter nunca está de folga! E é isso. Temos que saber que a pauta pode cair no nosso colo a qualquer momento. Seja quando estamos trabalhando ou não. Aliás, quem quer ser jornalista precisa saber que vai perder festas, finais de semana, feriados. Que vai fazer plantão no Natal, no Carnaval, no Reveillon. Em compensação, muitas vezes, vai estar onde todos queriam estar. Pode ser a final da Copa do Mundo num assento privilegiado, por exemplo. Já pensou?
Quem quer ser repórter tem que achar que sua pauta é a mais importante do mundo, mesmo que seja um “buraco de rua”, porque aquilo afeta pessoas e, por isso, é importante para elas. Quem quer ser repórter pode sim sonhar com um evento especial, internacional, mas tem que saber que nem sempre ele vem e quando vem é muito mais cansativo do que a gente imagina!!!
Quem quer ser repórter precisa ser um pouco maluco. Muito apaixonado. Precisa ter a certeza de que quer seguir essa carreira. Ontem, dia do repórter, resolvi fuçar meus arquivos. Nunca tive dúvidas de que nasci para ser repórter. Mas ontem, especialmente, tive a certeza de que não poderia ter sido outra coisa na vida!!!